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Auto Mutilação: A Ferida Alivia a Dor?

Atualizado: 27 de abr. de 2023

Contradizendo o que muitas pessoas acreditam, os comportamentos de auto mutilação não são formas de chamar atenção, tampouco “modinhas” ou “ondas” estimuladas pelas redes sociais. Claro que o forte apelo das mídias e a propagação de ideias equivocadas sobre esta ou outras problemáticas juvenis, podem contribuir para aumentar a frequência de repetições com que ocorrem, já que o adolescente é um potencial “seguidor” de informações, mas a automutilação é uma situação que já existe há anos, porém, especialmente nas duas últimas décadas, tem chamado maior atenção da sociedade.

Normalmente, a auto mutilação está relacionada a questões emocionais e psicológicas bem sérias, que se não forem tratadas no tempo e da forma correta, podem evoluir para consequências gravíssimas, tais como o suicídio. Isso não significa dizer que a pessoa que se automutila, seja criança, adolescente ou adulto vai progredir para o suicídio ou ideação suicida, mas pesquisas apontam uma prevalência maior de pensamentos e atos suicidas em pessoas que praticavam automutilação inicialmente.

Dessa forma, o que vamos fazer através desta leitura é compreender quais as principais causas que levam uma pessoa à auto mutilação, como abordá-la de forma acolhedora e ofertar o tratamento adequado para reverter essa situação.

É importante ressaltar que auto mutilação pode ocorrer com indivíduos de todas as faixas etárias: crianças, adolescentes, adultos e idosos.

Entretanto, neste texto daremos um enfoque à questão da auto mutilação na adolescência, trazendo alguns esclarecimentos, orientações e alternativas importantes às famílias que estejam vivenciando este tipo de problema.


O Aumento da Prática de Auto Mutilação entre Adolescentes


A crescente prática de auto mutilação entre a população adolescente é, além de um problema de saúde pública, um tema que merece exaustiva preocupação por parte das famílias, dos professores, da escola e da sociedade como um todo. Isso porque, como mencionado anteriormente, este comportamento normalmente indica a existência de problemas psicológicos graves e que em boa parte das vezes requerem tratamento profissional qualificado e rápido.

Embora a temática da automutilação seja largamente divulgada e debatida em redes sociais, profissionais da saúde, especialmente psicólogos e psiquiatras, explicam que não é somente a mídia que colabora para a ocorrência do problema, mas a junção de diversos fatores. Conflitos intrafamiliares, sentimento de não pertencimento social, baixa estima, questões relacionadas à preconceitos de raça e gênero talvez devessem ser o ponto alto nas discussões que buscam explicar porque os adolescentes tem se machucado tanto. Sem dúvidas, a maior parte dos casos de automutilação tem como pano de fundo quadros clínicos como depressão e ansiedade, que muitas vezes podem surgir como decorrência das violências emocionais e sociais acima citadas.

Nos relatos sobre a atitude de machucar-se, encontramos discursos diferenciados. Alguns contam que fazem isso para sentirem alívio da dor insuportável da alma, outros falam que o fazem para verem até mais quanta dor conseguem suportar. Uma questão importante para atentarmos é que na maior parte dos casos está presente na mente dos adolescentes a ideia de “que ninguém se importa com eles”.

Dessa forma, podemos afirmar que os adolescentes que praticam automutilação fazem isso em momentos de dor, de solidão, de tristeza e sensação de abandono, ainda que estejam acompanhados e amparados. A dor é interna, a questão é de saúde mental e emocional séria. Por não conseguirem expressar essas dores verbalmente ou por escrito, a atitude de se machucar aparece como uma forma alternativa de substituir a dor e a depressão.







Principais Causas para a Auto Mutilação


Podemos mencionar inúmeras causas, mas dentre as mais recorrentes vale destacarmos:

· Depressão: Apresenta como principais caraterísticas o isolamento social, a sensação de solidão, choro fácil, falta de interesse pelos estudos ou abandono escolar, uso ou abuso de álcool e outras drogas, desistência em participar de atividades que antes eram prazerosas;


· Conflitos Familiares: A Infância e a Adolescência são fases em que mudanças importantes marcam o desenvolvimentos dos indivíduos, dos pontos de vista emocional, social, cognitivo, físico e comportamental. As constantes mudanças sociais requerem que as famílias estejam abertas ao diálogo, de modo a proporcionar um ambiente afetivo e seguro para os filhos, independente de qual seja a condição financeira familiar. Afeto e compreensão não estão ligados a dinheiro e a automutilação ocorre em todas as classes sociais e familiares;


Infelizmente, muitas vezes conflitos familiares intensos acabam levando a criança ou adolescente a vivenciar sentimentos de dor, tristeza, depressão e solidão profundos, contribuindo para a prática da automutilação, dentre outras situações de risco;


· Bullying e Violência Psicológica: O Bullying e a Violência Psicológica, seja nas escolas ou em outros espaços de convivência, frequentemente estão relacionados a padrões de beleza, raça , gênero e comportamentos. Para aqueles que não se adequam ao padrão tido como “correto”, muitas vezes restam perseguições repetidas, abusivas, violências verbais e físicas, que podem variar de intensidade inicial leve à gravíssima, incluindo crimes de homicídio. É necessário que haja políticas públicas eficazes ao enfrentamento do bullying nas escolas e na sociedade de forma geral, já que trata-se de uma violência que não pode ser vista como normal ou como parte do desenvolvimento da criança e do adolescente. E ainda, merece atenção de vários setores da sociedade para seu enfrentamento e superação.



Principais Tipos de Auto Mutilação


Há vários tipos de comportamentos compatíveis com auto mutilação, muitos ainda sendo estudados. Abaixo, seguem os mais frequentemente relatados:

· Cortar a Pele;

· Esfolar-se;

· Bater em si mesmo;

· Beliscar-se até sangrar;

· Morder-se até machucar ou sangrar;

· Queimar-se;

· Arrancar cabelos (também muito frequentemente encontrado em casos de Transtorno Obsessivo Compulsivo)*;

· Enfiar objetos embaixo da pele;

· Roer ou quebrar as unhas até descolá-las da pele;

· Auto tatuagem


*a atitude de arrancar os cabelos em casos de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), também conhecida como tricotilomania, tem motivações e variações diferentes dos casos de automutilação.




Consequências Psicológicas e Sociais da Auto Mutilação na Vida do Adolescente e dos Familiares


A maior parte das crianças e adolescentes, segundo seus relatos, praticam a automutilação por se sentirem solitários e acreditar que não tem compartilhar sua dor, não podem confiar ou ser aceitos por ninguém, nem mesmo pelos familiares próximos. Essas situações tensas comprometem toda a dinâmica e rotina familiar, muitas famílias se sentem perdidas sobre como agir, temendo serem autoritárias e perder de vez o que resta de confiança e outras famílias, por sua vez, preferem “largar de mão”, deixar de lado, em parte para diminuir o sofrimento resultante da observação da dor de um ente querido. Esses desajustes emocionais ocasionam diversos conflitos e comprometem negativamente a vida pessoal, escolar e os relacionamentos afetivos e familiares. Os prejuízos decorrentes desse problema causam forte impacto e podem resultar em comorbidades (quando uma doença pré-existente favorece o desenvolvimento de outra) psíquicas e aumentam o risco para o surgimento de doenças físicas também.

Para as famílias, é fortemente necessário um trabalho contínuo de suporte emocional, para trabalhar o fortalecimento dos vínculos afetivos fragilizados ou até mesmo rompidos, e de proximidade com o indivíduo em sofrimento, que precisa de carinho, suporte e acolhimento. O adolescente e seus familiares precisam ser direcionados num trajeto de respostas mais positivas sobre os conflitos da idade e suas possíveis formas de superação.





Se você vive esse problema em sua família ou conhece alguém que precise de apoio, entre em contato comigo pelo whatsapp para agendarmos um atendimento.

 
 

Angela Letícia dos Santos - Psicóloga Clínica. CRP: 0675/540

 

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