Auto Mutilação: A Ferida Alivia a Dor?
- angelaleticiasanto
- 26 de abr. de 2023
- 5 min de leitura
Atualizado: 27 de abr. de 2023
Contradizendo o que muitas pessoas acreditam, os comportamentos de auto mutilação não são formas de chamar atenção, tampouco “modinhas” ou “ondas” estimuladas pelas redes sociais. Claro que o forte apelo das mídias e a propagação de ideias equivocadas sobre esta ou outras problemáticas juvenis, podem contribuir para aumentar a frequência de repetições com que ocorrem, já que o adolescente é um potencial “seguidor” de informações, mas a automutilação é uma situação que já existe há anos, porém, especialmente nas duas últimas décadas, tem chamado maior atenção da sociedade.
Normalmente, a auto mutilação está relacionada a questões emocionais e psicológicas bem sérias, que se não forem tratadas no tempo e da forma correta, podem evoluir para consequências gravíssimas, tais como o suicídio. Isso não significa dizer que a pessoa que se automutila, seja criança, adolescente ou adulto vai progredir para o suicídio ou ideação suicida, mas pesquisas apontam uma prevalência maior de pensamentos e atos suicidas em pessoas que praticavam automutilação inicialmente.
Dessa forma, o que vamos fazer através desta leitura é compreender quais as principais causas que levam uma pessoa à auto mutilação, como abordá-la de forma acolhedora e ofertar o tratamento adequado para reverter essa situação.
É importante ressaltar que auto mutilação pode ocorrer com indivíduos de todas as faixas etárias: crianças, adolescentes, adultos e idosos.
Entretanto, neste texto daremos um enfoque à questão da auto mutilação na adolescência, trazendo alguns esclarecimentos, orientações e alternativas importantes às famílias que estejam vivenciando este tipo de problema.
O Aumento da Prática de Auto Mutilação entre Adolescentes
A crescente prática de auto mutilação entre a população adolescente é, além de um problema de saúde pública, um tema que merece exaustiva preocupação por parte das famílias, dos professores, da escola e da sociedade como um todo. Isso porque, como mencionado anteriormente, este comportamento normalmente indica a existência de problemas psicológicos graves e que em boa parte das vezes requerem tratamento profissional qualificado e rápido.
Embora a temática da automutilação seja largamente divulgada e debatida em redes sociais, profissionais da saúde, especialmente psicólogos e psiquiatras, explicam que não é somente a mídia que colabora para a ocorrência do problema, mas a junção de diversos fatores. Conflitos intrafamiliares, sentimento de não pertencimento social, baixa estima, questões relacionadas à preconceitos de raça e gênero talvez devessem ser o ponto alto nas discussões que buscam explicar porque os adolescentes tem se machucado tanto. Sem dúvidas, a maior parte dos casos de automutilação tem como pano de fundo quadros clínicos como depressão e ansiedade, que muitas vezes podem surgir como decorrência das violências emocionais e sociais acima citadas.
Nos relatos sobre a atitude de machucar-se, encontramos discursos diferenciados. Alguns contam que fazem isso para sentirem alívio da dor insuportável da alma, outros falam que o fazem para verem até mais quanta dor conseguem suportar. Uma questão importante para atentarmos é que na maior parte dos casos está presente na mente dos adolescentes a ideia de “que ninguém se importa com eles”.
Dessa forma, podemos afirmar que os adolescentes que praticam automutilação fazem isso em momentos de dor, de solidão, de tristeza e sensação de abandono, ainda que estejam acompanhados e amparados. A dor é interna, a questão é de saúde mental e emocional séria. Por não conseguirem expressar essas dores verbalmente ou por escrito, a atitude de se machucar aparece como uma forma alternativa de substituir a dor e a depressão.

Principais Causas para a Auto Mutilação
Podemos mencionar inúmeras causas, mas dentre as mais recorrentes vale destacarmos:
· Depressão: Apresenta como principais caraterísticas o isolamento social, a sensação de solidão, choro fácil, falta de interesse pelos estudos ou abandono escolar, uso ou abuso de álcool e outras drogas, desistência em participar de atividades que antes eram prazerosas;
· Conflitos Familiares: A Infância e a Adolescência são fases em que mudanças importantes marcam o desenvolvimentos dos indivíduos, dos pontos de vista emocional, social, cognitivo, físico e comportamental. As constantes mudanças sociais requerem que as famílias estejam abertas ao diálogo, de modo a proporcionar um ambiente afetivo e seguro para os filhos, independente de qual seja a condição financeira familiar. Afeto e compreensão não estão ligados a dinheiro e a automutilação ocorre em todas as classes sociais e familiares;
Infelizmente, muitas vezes conflitos familiares intensos acabam levando a criança ou adolescente a vivenciar sentimentos de dor, tristeza, depressão e solidão profundos, contribuindo para a prática da automutilação, dentre outras situações de risco;
· Bullying e Violência Psicológica: O Bullying e a Violência Psicológica, seja nas escolas ou em outros espaços de convivência, frequentemente estão relacionados a padrões de beleza, raça , gênero e comportamentos. Para aqueles que não se adequam ao padrão tido como “correto”, muitas vezes restam perseguições repetidas, abusivas, violências verbais e físicas, que podem variar de intensidade inicial leve à gravíssima, incluindo crimes de homicídio. É necessário que haja políticas públicas eficazes ao enfrentamento do bullying nas escolas e na sociedade de forma geral, já que trata-se de uma violência que não pode ser vista como normal ou como parte do desenvolvimento da criança e do adolescente. E ainda, merece atenção de vários setores da sociedade para seu enfrentamento e superação.
Principais Tipos de Auto Mutilação
Há vários tipos de comportamentos compatíveis com auto mutilação, muitos ainda sendo estudados. Abaixo, seguem os mais frequentemente relatados:
· Cortar a Pele;
· Esfolar-se;
· Bater em si mesmo;
· Beliscar-se até sangrar;
· Morder-se até machucar ou sangrar;
· Queimar-se;
· Arrancar cabelos (também muito frequentemente encontrado em casos de Transtorno Obsessivo Compulsivo)*;
· Enfiar objetos embaixo da pele;
· Roer ou quebrar as unhas até descolá-las da pele;
· Auto tatuagem
*a atitude de arrancar os cabelos em casos de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), também conhecida como tricotilomania, tem motivações e variações diferentes dos casos de automutilação.
Consequências Psicológicas e Sociais da Auto Mutilação na Vida do Adolescente e dos Familiares
A maior parte das crianças e adolescentes, segundo seus relatos, praticam a automutilação por se sentirem solitários e acreditar que não tem compartilhar sua dor, não podem confiar ou ser aceitos por ninguém, nem mesmo pelos familiares próximos. Essas situações tensas comprometem toda a dinâmica e rotina familiar, muitas famílias se sentem perdidas sobre como agir, temendo serem autoritárias e perder de vez o que resta de confiança e outras famílias, por sua vez, preferem “largar de mão”, deixar de lado, em parte para diminuir o sofrimento resultante da observação da dor de um ente querido. Esses desajustes emocionais ocasionam diversos conflitos e comprometem negativamente a vida pessoal, escolar e os relacionamentos afetivos e familiares. Os prejuízos decorrentes desse problema causam forte impacto e podem resultar em comorbidades (quando uma doença pré-existente favorece o desenvolvimento de outra) psíquicas e aumentam o risco para o surgimento de doenças físicas também.
Para as famílias, é fortemente necessário um trabalho contínuo de suporte emocional, para trabalhar o fortalecimento dos vínculos afetivos fragilizados ou até mesmo rompidos, e de proximidade com o indivíduo em sofrimento, que precisa de carinho, suporte e acolhimento. O adolescente e seus familiares precisam ser direcionados num trajeto de respostas mais positivas sobre os conflitos da idade e suas possíveis formas de superação.
Se você vive esse problema em sua família ou conhece alguém que precise de apoio, entre em contato comigo pelo whatsapp para agendarmos um atendimento.